quarta-feira - 8 de dezembro de 2021

Mercado de crédito está operando em níveis superiores ao período pré-pandêmico, diz diretora da PwC Brasil

Por conta da grande inadimplência que o Brasil tem vivido em 2021, o mercado de créditos esteve aquecido durante todo o ano – e pretende permanecer assim nos próximos meses também.

Apesar das medidas emergenciais que o governo federal praticou durante a pandemia da Covid-19, que mantiveram o controle nos níveis de endividamento das famílias brasileiras, esse efeito é temporário. E para explicar um pouco mais sobre isso a você, convidamos Carolina Pimenta, Diretora Corporate Finance da PwC Brasil, para um bate-papo conosco.

Carolina é bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e tem MBA Executivo em Gestão Financeira em andamento na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Além disso, acumula experiência em trabalhos de reestruturação financeira e transações de carteira de créditos e ativos não essenciais, tendo participado das principais cessões de créditos inadimplidos no país nos últimos 14 anos.

Confira a seguir a conversa que o Portal Cessão de Créditos teve com a profissional.

Portal Cessão de Créditos: Carolina, você está à frente da diretoria da PwC Brasil há 2 anos. Durante esse tempo, como foi o movimento do mercado de crédito dentro da empresa sob o seu ponto de vista?

Carolina Pimenta: Atuo no mercado de crédito e cobrança desde 2007 e tive a oportunidade de participar e conduzir cessões de carteiras de créditos inadimplidos pioneiras nos setores financeiro, de serviços e de varejo aqui no Brasil. Desde 2014, a PwC conta com uma equipe especializada neste mercado, e temos acompanhado o seu desenvolvimento e amadurecimento que culminou inclusive na ampla difusão do tema.

A cessão de “créditos podres” aos “fundos abutres” era vista no Brasil como uma medida extraordinária para atender uma necessidade específica e muitas vezes emergencial do cedente. Hoje, a cessão de créditos inadimplidos já é reconhecida como parte da solução de recuperação de crédito de grandes instituições financeiras e não financeiras – é aí que a PwC agrega valor ao mercado, usualmente assessorando os cedentes, desde a preparação das operações com a escolha dos ativos a serem cedidos, alinhando os objetivos do cedente e a avaliação dos impactos econômicos, financeiros, contábeis e fiscais, até a organização do processo competitivo e efetivação da venda.

Portal: Com relação à cessão de crédito, ela é uma opção válida para os pequenos negócios, visto que foram os mais afetados pela pandemia?

CP: Sem dúvida. A cessão de créditos não é uma solução exclusiva de grandes indústrias e o amadurecimento do mercado e novas ferramentas, como o Portal Cessão de Créditos, viabilizam a cessão de carteiras de crédito com os mais diversos perfis. Em se tratando de créditos inadimplidos, ainda que os deságios nestas operações sejam relevantes quando comparados ao valor de face original, muitas vezes implica no cedente receber à vista valores que não esperava mais receber, ou tinha expectativa de receber a médio ou longo prazo, o que pode ser especialmente interessante para os pequenos negócios nesta situação ainda delicada.

Portal: Por falar em pandemia, você acredita que as consequências econômicas foram menos impactantes agora em 2021? 

CP: Acredito que não. A explosão da inflação e da taxa básica de juros e o alto índice de desemprego mostram a fragilidade em que nossa economia se encontra. De acordo com os dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) de novembro de 2021, 75,6% das famílias brasileiras estão endividadas – este é o número mais alto registrado da série, desde janeiro de 2010. E, ainda, de acordo com os dados do Banco Central do Brasil, o endividamento das famílias brasileiras representa aproximadamente 60% de sua renda anual – este também é o nível mais alto registrado, desde janeiro de 2005.

As medidas emergenciais promovidas pelo governo mantiveram os índices de inadimplência controlados e até implicaram em resultados acima do esperado no mercado de recuperação de crédito, mas estes efeitos são temporários e, de certa forma, artificiais, uma vez que o poder de compra do brasileiro foi afetado de forma material.

Portal: Para finalizar, nos conte um pouco sobre o panorama que o mercado de créditos vencidos terá no próximo ano. Você está otimista?

CP: Com certeza! Após um congelamento do mercado de compra e venda de créditos causado pelo início da pandemia, em 2020, o mercado voltou a operar plenamente e em níveis até superiores ao período pré-pandêmico. Os grandes cedentes retornaram ao mercado com carteiras de volumes expressivos e inclusive com perfil mais jovem (menor tempo de atraso). Muitas fintechs entraram no mercado e estamos observando um interesse e uma adesão cada vez maior de instituições fora do setor financeiro, tal como instituições de ensino e indústrias. Além disso, há uma expectativa de que o setor público contribua com um volume relevante de crédito no mercado. A PwC estima que o volume de transações nos próximos anos seja superior a R$ 50 bilhões, em valor de face.


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