“A cessão de créditos vem se consolidando cada vez mais como uma parte importante da estratégia de cobrança. Isso porque este é um mercado que tem uma taxa composta anual de crescimento de cerca de 15% nos últimos 12 anos e ainda há muito espaço para crescer”.
A frase contém boas doses de otimismo e pertence ao nosso entrevistado do mês. Ricardo Marin atualmente é Diretor PLAS (Portfolio Lead Advisory Services) da Deloitte, instituição tradicional de serviços de auditoria, consultoria, assessoria financeira, consultoria tributária, Risk Advisory e serviços relacionados. Formado em Gestão de Negócios pela Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP), seu currículo inclui muita experiência com passagens por grandes empresas como por exemplo Citi, Credicard e PwC.
Em entrevista ao blog do Portal Cessão de Créditos, Ricardo Marin contou mais sobre a história da Deloitte no Brasil e como enxerga o mercado para esse final de ano. Confira abaixo nossa entrevista exclusiva!
Ricardo Marin: A Deloitte tem as mais diversas soluções de mercado e atua em parceria com o mercado financeiro desde o seu início. Acho difícil elencar como ajudamos de forma específica, pois através dos nossos times de financial advisory, auditoria, risk advisory e tax, dentre outros, a Deloitte está sempre na vanguarda dos novos conceitos e melhores práticas de mercado. Com isso, auxiliando as instituições não só no seu crescimento, como na governança e alinhamento às regulações pertinentes, trazendo, assim, consistência e segurança a toda a cadeia.
Ricardo Marin: No início da pandemia, todos imaginaram um cenário desastroso de inadimplência. De imediato, os grandes bancos adotaram duas ações: aumentaram as provisões para perda e criaram programas de refinanciamento, incluindo carência no prazo de pagamento. Porém, o que temos observado nos diversos setores do mercado de crédito nos últimos meses é um movimento de queda nos níveis de inadimplência.
Entendo que esse movimento tem dois principais motivadores. São eles: a postergação de vencimento de parcelas, utilizada de forma maciça pelos grandes bancos, e a injeção de recursos feita pelo governo através de benefícios sociais e às empresas.
Nesse sentido, a percepção geral é de que 2020 terá índices de inadimplência menos preocupantes. Consequentemente, a cessão dos estoques de crédito inadimplentes de alguns importantes cedentes deverá ser adiada para o próximo ano. Até como forma de avaliar mais detalhadamente o comportamento dos empréstimos “rolados” e seu impacto nos balanços das instituições.
No início do ano, nossa estimativa era de que seria transacionado um volume entre R$ 40 bilhões e R$ 45 bilhões desse tipo de crédito. Atualmente, estimamos que esse número fechará 2020 em cerca de R$ 25 bilhões. Ainda assim, trata-se de um volume ligeiramente inferior ao fechamento de 2019, com cerca de 15% a menos.
De qualquer forma, a cessão de créditos vem se consolidando cada vez mais como uma parte importante da estratégia de cobrança. Não só dos grandes bancos, mas também de instituições de diversos setores que entendem a importância de focar seus recursos e esforços no atraso “mais curto”. Assim, possibilitando a antecipação de caixa, liberação de provisão de devedores duvidosos e antecipação de benefício fiscal. É um mercado que tem uma taxa composta anual de crescimento de cerca de 15% nos últimos 12 anos e ainda muito espaço para crescer.
RM: Assim como em qualquer segmento, o mercado de crédito é bastante sensível às questões políticas e/ou sociais. Como exemplo mais recente, podemos citar a crise política entre 2015 e 2018. Se utilizarmos agosto de cada ano como referência, observamos que entre 2011 e 2015 a taxa composta de crescimento anual do volume de créditos no Sistema Financeiro Nacional era superior a 10% e, com todo o agravamento do cenário político, o volume de créditos ficou praticamente estável até 2018.
Na outra ponta do ciclo de crédito, essa deterioração impacta diretamente a produção das empresas. Consequentemente, a capacidade dessas gerarem receitas. O que, por sua vez, influencia nas taxas de desemprego, aumentando os níveis de inadimplência tanto de pessoas jurídicas quanto físicas. Essa combinação de fatores gera uma “bola de neve”, já que a deterioração dos portfólios faz com que os bancos tendam a desacelerar a liberação de novos recursos para perfis de maior risco, impactando toda a cadeia de crédito.
RM: A Deloitte é uma empresa centenária e que possui diversas soluções em seu portfólio. Na questão específica relacionada às carteiras de créditos, atuamos de forma ampla de acordo com a necessidade de cada cliente.
Atuamos de ponta a ponta na assessoria para compra e venda de ativos inadimplidos e/ou não essenciais. Por exemplo, na compra/venda de carteiras de créditos (sejam elas adimplentes ou inadimplentes). Nosso escopo é bastante modular e, de forma geral, inclui a precificação dos ativos, toda a preparação das informações e procedimentos internos, além da coordenação da transação junto ao mercado ou ao vendedor.
Prestamos ainda serviços específicos como o asset tracing, que auxilia o credor na busca por localização de ativos. Bem como no desenvolvimento de alternativas na recuperação de seus créditos, além de uma equipe especializada e dedicada de reestruturação que pode auxiliar tanto o credor quanto o devedor na busca de alternativas para essas carteiras. Isso nos permite ter uma visão macro de cada situação para apoiar da melhor maneira os clientes que necessitam lidar com essas carteiras.
Caso queira ler mais algumas entrevistas com quem entende do assunto, que tal conferir essas duas abaixo?